Há milhões de anos, o planeta terra presencia o fantástico ciclo da água. A água da chuva cai, corre para rios e mares e evapora, além de condensar em forma de gotículas e cair novamente. Um movimento infinito e circular. Neste processo sem fim, humanos, fauna e flora vivem com o líquido mais precioso e importante do planeta.
Porém, as atividades humanas, a industrialização, o consumo desordenado tem escasseando de forma muito rápida o que até poucas décadas era abundante e aparentemente nunca faltaria. A construção civil, o desmatamento e o aumento do consumo consomem bilhões de litros de água pura que quando é devolvida à natureza volta carregada de sujeira, compostos químicos e lixo. O reuso da água na indústria nunca foi tão importante.
Os moradores das grandes cidades passam por um aperto inimaginável com a falta de água para uso em residências e comércio. Guardar água da chuva é cada vez mais difícil pela consequente falta de chuva. Campanhas de racionamento decretadas por governos escancaram um problema que já não é mais de um, mas, de todos. Para não comprometer a produção na indústria química, têxtil e sucroenergética entre outras, fez-se necessário desenvolver técnicas de reaproveitamento e reuso da água, além da construção de estações de tratamento de esgoto A indústria inovou também ao tratar não só o esgoto, mas, também a água.
Nesse artigo você irá aprender sobre:
Estação de tratamento de esgoto na indústria
Principais alternativas para o reuso de água na indústria
Reuso de água na indústria sucroenergética
Reuso de água na indústria têxtil
Reuso de água na indústria química
Estação de tratamento de esgoto na indústria
Também conhecida pela sigla ETE (Estação de Tratamento de Esgoto ou de Efluentes), as estações na indústria tem como característica o odor e a cor do líquido que foi utilizado na lavagem de peças e máquinas, sistemas de resfriamento ou no próprio produto fabricado. Em geral, óleos e metais pesados são encontrados em grande quantidade, gerando um produto altamente prejudicial à saúde e contaminador.
Abrir as torneiras e despejar este material de volta na natureza como sai das máquinas, significaria uma completa destruição do solo, plantas, água e seres vivos. As estações de tratamento de esgoto na indústria limpa esse líquido antes de voltar à natureza. Reações químicas separam o material sólido do líquido. Em seguida, bactérias e microorganismos “comem” esta matéria orgânica. Esse tratamento passa numa estação convencional por pelo menos cinco estágios.
- Pré-tratamento: Grades metálicas separam grandes materiais sólidos do líquido. Em um processo de restituição, quando os grãos de areia vão para o fundo e as matérias orgânicas flutuam.
- Tratamento primário: Processos físico-químicos equalizam e neutralizam a carga de sedimentos sólidos. As partículas poluentes são agrupadas (floculação) e removidas.
- Tratamento secundário: Processos bioquímicos aeróbicos e anaeróbicos. No primeiro, simula-se um processo natural de composição e no anaeróbico, micro-organismos consomem a matéria orgânica. Nesta etapa, ocorre clarificação ou o efluente fica com cor mais próxima da água não poluída.
- Tratamento do lodo: Todos os sistemas de tratamento de esgoto geram resíduos e o lodo é uma mistura de substâncias que contém colóides, minerais e material orgânico. Nesta fase, se reduz o teor e o volume dessa matéria orgânica.
- Tratamento terciário: Neste ponto, a água já pode ser utilizada, para lavar um carro ou regar um jardim. Porém, ainda há grande concentração de nitrogênio e fósforo, prejudicial ao consumo humano. Se o objetivo é o uso como água potável, é necessário o tratamento terciário feito através do processo de lodos ativados (remoção do nitrogênio) e tratamento químico com sulfato de alumínio ou cloreto férrico (remoção de fósforo).
Assim, a indústria reutiliza a água em operações da própria fábrica como lavagem de calçadas, veículos e/ou nos jardins ou devolve à natureza sem risco de contaminação, ou até mesmo para o próprio processo de fabricação. Para regulamentar a construção de ETE’s que contribuam para o êxito da preservação das águas, o Ministério do Meio Ambiente fez vigorar a resolução 357, original de 17 de março de 2015, e atualizada posteriormente, que dispõe sobre a classificação dos corpos de água e diretrizes ambientais para o seu enquadramento, bem como estabelece as condições e padrões de lançamento de efluentes.
O apelo ambiental e razões econômicas tem estimulado o surgimento de estações de tratamento de água na indústria. Como no caso do esgoto, o tratamento da água passa por pelo menos seis etapas: captação, coagulação, floculação, decantação, filtração e cloração.
- Captação: grades impedem a entrada de elementos maiores como folhas, por exemplo.
- Coagulação: aglomeração de partículas pela reação de: cal hidratado e sulfato de alumínio.
- Floculação: lentamente agitada, as partículas de sujeira formam flocos em solução alcalina.
- Decantação: os flocos se depositam no fundo e a água segue para filtros de areia.
- Filtração: se ainda houver flocos de sujeira, eles são eliminados em um filtro de carvão.
- Cloração: adição de cloro que age como desinfetante e oxidante.
Em algumas cidades, uma sétima etapa acontece com a adição de flúor, para prevenção de cárie dentária. Essa fase chama fluoretação.
Principais alternativas para o reuso de água na indústria
O reuso de água na indústria tem se mostrado muito vantajoso do ponto de vista ambiental e econômico. Os custos de produção reduzem e a empresa cria um forte apelo como fábrica que preserva o meio ambiente e seus recursos. Em geral, as indústrias que instalaram estações de tratamento de esgoto conseguem reaproveitar até 90% da água consumida. Na indústria do aço, os números impressionam ainda mais. A redução no uso de água chega a 94%. A OMS (Organização Mundial da Saúde) definiu três formas comuns, de reutilização da água, dentro das indústrias.
- Reuso direto: uso da água proveniente do tratamento de esgoto e captação pluvial.
- Reuso indireto: a água utilizada é tratada e despejada em corpos hídricos, como rios e riachos, aumentando o volume e sendo recolhida novamente.
- Reciclagem interna: a água usada é tratada e reutilizada dentro da própria indústria.
Utilizar a água de reuso permite que a água potável seja usada tão somente no abastecimento humano. A água de reuso pode ser utilizada, por exemplo, em descarga de vasos sanitários, jardins e canteiros, lavagem de calçadas e áreas comuns e lavagem de veículos.
Reuso de água na indústria sucroenergética
A indústria sucroenergética, ou canavieira, tem adotado um conjunto de medidas a fim de adequar a captação e utilização de água à legislação ambiental. A Embrapa, Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, conduziu estudo que sugere a instalação de um desareador, caixa de areia mecanizada com remoção contínua que separa a areia e outros detritos do meio, para aumentar a eficiência térmica da caldeira, a substituição de trocadores de calor por placas de chillers, equipamento que produz água gelada para arrefecer o ar, produtos ou equipamentos de redução de temperatura na fermentação do mosto, a limpeza a seco da cana-de-açúcar e a instalação de torres de refrigeração para reutilização da água em operações unitárias da própria usina.
As usinas que utilizam as técnicas sugeridas pela EMBRAPA conseguiram se adequar à legislação ambiental e aos parâmetros indicados pela Secretaria de Meio Ambiente.
Reuso de água na indústria têxtil
Foi-se o tempo em que o setor têxtil era um vilão do meio ambiente com uso descontrolado de água em diversas etapas da produção. O setor que chegou a utilizar cem litros de água para produzir um quilo de tecido, conseguiu reduzir em 90% este consumo.
A sustentabilidade na indústria têxtil é incentivada pela Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (ABIT), que desenvolveu o Selo Qual, que tem como objetivo assegurar ao mercado que as empresas seguem padrões de conservação ambiental e padronização de processos, buscando a melhoria contínua, o respeito ao meio ambiente e à legislação, além da responsabilidade social. Segundo a ABIT, “para as empresas, a obtenção do selo representa um importante instrumento para o desenvolvimento industrial, incremento das exportações e defesa do consumidor: além de ser uma maneira de mostrar isso para o mercado”.
Entre as tecnologias utilizadas está a Dye Clean. O processo tradicional de pigmentação de tecidos consome muita água, produtos químicos e sal, além de poluir os rios. Para o diretor da empresa que desenvolveu a tecnologia, Alessandro de Marchi, “O processo Dye Clean permite que em um mesmo “banho” de tingimento, possam ser aplicadas diversas cores sem a necessidade de descartar o banho, sendo um processo ambientalmente amigável e que custam, em média, 30% a menos que as tecnologias convencionais”.
Reuso de água na indústria química
A indústria consome três vezes mais água do que os consumidores domésticos. Porém, consegue reutilizar grande parte desta água, o que não acontece nas residências. O setor industrial, antes alheio aos apelos ambientais, hoje tem buscado parcerias para desenvolver produtos e tecnologia que garanta o reuso de água na indústria em todos os processos de produção. As maiores consumidoras como as indústrias de celulose e papel, bebidas, usinas de cana e outras têm investido em ações ambientais dentro da indústria e nos arredores com campanhas de preservação de rios e nascentes. O impacto tem sido positivo na comunidade vizinha que tem reconhecido os esforços. Esse esforço se reflete na sociedade. Cuidar da água, de seus mananciais e se possível, reutilizar é garantir a permanência segura para futuras gerações deste precioso e indispensável líquido.
ENG. FELIPE WAGNER